quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ed

Ed era uma pessoa difícil de conviver. Talvez pela sua esquizofrenia. Uma esquizofrenia que o deixava alheio ao mundo, medroso. E alguns poucos afortunados ainda sofriam nas mãos de Ed, literalmente. Ed tinha surtos e começava a esganar algumas pessoas. Pessoas que seu subconsciente doente escolhia, e ele esganava, apertava as mãos bem forte e com ódio no olhar. Quando voltava a si, ele não entendia o que estava acontecendo. Ele só conseguia ver a si mesmo com as mãos no pescoço de alguém. E como uma pessoa criada com bom caráter e com princípios, ele sentia-se enjoado com o que fazia, culpado... Caia em depressão e se fechava ainda mais em seu mundo. Ele mesmo não via salvação para si, nem esperança. E com aquelas tentativas homicidas, ele não via mais nem bondade.

Ed estava em um grupo de pessoas. Ele não sabia bem quem eram. Estava sempre perdido em seus pensamentos, tentando se isolar ao máximo do mundo. Olhava para a paisagem que passava pela janela do carro. Tudo perdendo sua forma num misto de loucura e cores, que o deixava fascinado e alheio. Olhava aqueles traços de verde, marrom, azul, branco, bege, vermelho, amarelo... Todas faziam e desfaziam grandes traços ao longo do percurso. Era como escrever a história da viagem, escrever em cores. Ed sorria com seus pensamentos. Era um cara inteligente, e sempre tivera pensamentos perceptivos, mas a esquizofrenia o ocorreu e ele preferiu se calar. Ele mesmo sentia que todos os seus pensamentos eram loucos. Melhor mantê-los para si.

Em um desses momentos presos em seus pensamentos, ele se afundou em uma suspensão... Mas como toda suspensão, ele não a percebeu, exceto quando ele já estava acordando. Acordou com as mãos tentando matar Ryan, um dos rapazes que estava no carro. De imediato Ed soltou o aperto, deixando Ryan buscar pelo tão preciso ar, tossindo pelo esforço. Ed estava assustado. Sentia-se como um assassino. Encolheu-se e levou a mão ao rosto.

– Filho da puta...– Dizia Ryan, com a voz falhando.

– Ele não tem culpa, e você sabe disso, Ryan.– Falava Cristiana.

Ed reconheceu a voz, era a mulher que ele amava. Sua melhor amiga de infância. Um dia a considerou como irmã, até começar a vê-la como mulher. Amou-a, e ela amou a ele. Mas os bons momentos faziam parte do passado. Ed sequer percebera que ela estava ali até aquele momento. Ele queria distância do mundo, queria ser preso e deixado só. Talvez assim ele não machucasse mais ninguém. 

– Ele... Qua-quase me ma-ma-matou, Cris.

– Eu sei, mas ele não tem culpa. É uma doença. 

Ryan olhava-a sério. No fundo sabia que ela estava certa. Mas ainda assim, tinha medo de ficar perto de Ed. Ele fora um dos escolhidos pelo subconsciente maluco de Ed para ser um alvo, e isso não o deixaria seguro em nenhum dos momentos em que Ed entrasse em suspensão.

Ed ouvia tudo alheio, calado, contendo o próprio choro. Odiava-se por não ter o controle da própria mente, dos próprios impulsos, e pela mente ter impulsos de matar um homem. Ele só queria acabar com aquilo, de um jeito ou de outro. Não queria ser um assassino, um louco, um alheio. E não sabia como voltar a ser ele mesmo. Queria acabar com aquilo.

Acordou. Estava em um beco escuro. As imagens não voltavam para a sua cabeça. Levantou-se. A cabeça doía. Sentia-se estranho. Olhou para os lados, tentando ver alguma coisa ou alguém. E viu.

Era Ryan, deitado no chão, inconsciente. Ao ver o estado do homem deitado no chão, Ed sentiu o vômito bater-lhe na garganta. O crânio de Ryan tinha sido cortado, e o lugar onde estaria o cérebro, só tinha um pequeno pedaço daquela massa retorcida. Ao lado da cabeça de Ryan, tinha um garfo ensanguentado. Rapidamente Ed soube o que acontecera, o que ele fizera. Sentiu nojo de si, do seu corpo, do lugar, so pensamento. Ele fora capaz de tal atrocidade¿ O vômito finalmente ganhou sua garganta e foi jogado no chão, deixando a mostra pedaços do órgão retorcido parcialmente digerido preencherem o líquido esverdeado. Ed enojava-se. Ele era um monstro.



Texto escrito em 2012, baseando em um sonho que tive, onde eu era Ed.

Céu Sem Estrelas

             A noite estava sem estrelas e as nuvens escondiam a lua, mas isso passou despercebido pelas pessoas daquele local, que andavam apressadamente pela calçada, como se lutassem contra o tempo. Por isso, ninguém o percebeu ali, sentado na beira do mar, olhando o céu, como se procurasse algo. Ele nunca fora de reparar como estava o céu, nunca fora de reparar nesses pequenos detalhes, sempre esteve concentrado em viver o presente intensamente, até pouco tempo atrás. Pensava na vida, olhando o céu vazio. A amarga sensação de fim e de solidão invadira sua vida nos últimos meses, e, se saber o que fazer, ele pensava.
             Lembrou-se do dia em que recebera a notícia informando-lhe que ele era HIV soropositivo. Ele tem AIDS. Naquele dia ele foi sozinho ao médico, mas não por que quis, e sim porque era sozinho. Não tinha amigos, só tinha os pais. O médico disse-lhe que estava doente e ele não acreditou, não quis acreditar. Não era muito cuidadoso com a saúde, mas também nunca se drogara, ou transara sem camisinha, ou fizera qualquer outra coisa que justificasse tal diagnóstico. Pensou que aquilo era um engano, certamente era um engano. Certamente...
             Levantou-se e se pôs a andar pela praia, deixando a água vir molhar-lhe os pés. O médico explicara que ele contraíra o vírus no acidente que sofrera, o qual ele precisou de uma transfusão de sangue. Não tinha culpa, pensou, ou tinha? Talvez tivesse. No dia tinha saído para uma festa e voltou no carro de um colega. Sim, colega, pois não tinha amigos. Foi de surpresa, um motorista que dirigia embriagado bateu no carro em que estava, ferindo-o gravemente, o que o levou a precisar de uma transfusão de emergência.
             Parou, fitando o céu. Ficou com raiva. As estrelas tinham não tinham o direito de fugir e as nuvens não tinham o direito de esconder alua, tirando o brilho do céu noturno. Sentiu-se igual ao céu sem luz, como se padecessem do mesmo mal. Eram sós e tinham uma existência escura, sem luz própria. Seus olhos umedeceram-se, ao lembrar-se dos pais. Não acreditaram quando disse que contraíra AIDS, mas que não tivera culpa, fora um acidente. O pai o expulsou de casa, não aceitava ter um filho drogado, ou um filho homossexual. Não acreditaram na sua inocência.
             Sentiu o chão sumir-lhe sob os pés, nada o prendia àquela vida. Há muito tempo nada o prendia ali. Olhou o mar, as ondas o chamavam, o chamavam com uma voz doce que prometia uma nova vida. Entrou no mar até desaparecer. No dia seguinte acordaria desse pesadelo, teria os pais ao seu lado, não estaria doente e, talvez, conseguisse fazer alguma amizade. As nuvens saíram da frente da lua, iluminando a noite, como se brindassem um final feliz.


Texto feito em 2010

Textos & Caraminholas

Pois é, pouca ou quase nenhuma galera que me acompanha, estava com saudades de escrever... Texto de ontem foi só pra desopilar, acho que deu pra perceber que eu estava quase que mandando uma mensagem para alguém. Anyway, agora é diferente. Vou tentar postar mais frequentemente, e tentarei postar contos, ou crônicas, ou começo de estórias... Vontade de escrever está se apossando da minha alma, de novo. Saudade de escrever, claro que seria bom receber sugestões de temas sobre o que escrever, mas acho que vou procurar em um site que eu conheço. Gosto das ideias... 
Postarei pelo menos mais uma hoje, que já coloquei em outro site, mas nunca postei aqui. Espero que gostem. Enfim...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

E aí, José?

               Não sei exatamente o que vim escrever hoje. Esses últimos vezes foram reviravoltas imensas na minha vida, como sempre. Não posso entrar em detalhes, há coisas que não quero compartilhar com um público que... Pode ser ou pode não ser vasto.
                No final do ano passado parece que algum tipo de IMà SEXUAL foi ativado em mim. Eu pago o ônibus, cara paquera comigo; vou almoçar, paqueram comigo; mesmo sem sair de casa, paqueram comigo. Isso NÃO FOI BOM! NÃO SEI COMO LIDAR E SOU PÉSSIMA PRA DAR FORA!E além do mais, por isso me magoei muito, me feri muito MESMO. De uma forma que poucos entenderiam, e não quero entrar em detalhes pra explicar. Mas isso foi só o começo, também descobri que uma amizade de dois anos era mentira na virada de ano, também fui "usada" emocionalmente por um cara que gostei mais ou menos, e também me envolvi com pessoas que só me pediam demais.. Cobravam demais. Sexo, afeto, compromisso, mas sem dar nada de troca... E que saber? E cansei. Cansei de me "vender" por baixo pra esse povo. Tinha até desistido dessa amizade louca de mentira por dois anos, dei uma segunda chance... Mas parece que as pessoas não querem mudar mudam. Infelizmente, pra certas pessoas, já passou dá época que acreditarei em mentirinhas sem provas. ESTÓRIAS sem pé nem cabeça, e que a única realidade que tem na ESTÓRIA está na cabeça de quem conta. Pliiiiis, me dêem mais crédito, sou bobinha, Às vezes, mas não sou idiota. ¬¬'
                 Não correrei atrás de amizades desse tipo, não pedirei desculpas por algo que não fiz.
                Acho engraçado que... A pessoa faz besteira, assume, pede desculpas e diz... VOU ESPERAR. Em pouco mais de um mês para de se importar se você confia ou não, sendo que você tem a porra de DOIS ANOS pra ganhar uma desconfiança dos infernos, e normalmente você só confia com pelo menos um ano DE RELACIONAMENTO. Um estupro emocional, obrigada. Ser obrigada a engolir coisas surreais, e sem provas, após tempos de mentira, como se fosse água? Querida, desculpe, mas não engulo pregos diariamente. Não aceito estupro emocional. Não aceito nenhum tipo de estupro. CHEGA!
            E, ok, legal, não liga pro que eu penso depois de você ter feito merda? Pois por que não vai esfregar a buceta ****** em uma árvore pra ver se goza? :D
            Mas sério, apesar de tudo, desejo que a pessoa seja bem feliz. Pena que quis continuar nesse caminho. Um peixo e inté.
             Pelo menos, agora parece que depois de ter uma das maiores quedas emocionais da minha vida, quando tive que me reinventar completamente por causa de um babaca e outros três babaquinhas...
               Agora estou melhorando, e ainda conheci alguém que me trata como carinho. Talvez não dê certo, ainda estou tão ferida... Mas pelo menos ele não está tentando sequer me tocar antes da hora, começo a querer beija-lo sem que ele mal tenha coragem de me abraçar ainda. :p

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Preconceito com SEXUALIDADE ou SEXO?

    Não sei por que esse preconceito que as pessoas têm com o sexo ou o corpo humano. Até sem ter preconceito com a sexualidade dos outros, há um preconceito que criamos em nós mesmos. Por exemplo, se eu me digo homossexual e sou uma MULHER, se eu chegar a ver um homem nu, um pênis ereto, mesmo que aquilo evoque algum desejo em mim, eu jogo de lado, pois levanto a bandeira do HOMOSSEXUALISMO ou, como outros diriam, do LESBIANISMO. Pra que¿ E se sou heterossexual eu teria que dizer que todo o corpo masculino, não todos os, é maravilhoso e o pênis e os testículos são lindos. Sinceramente¿ Eu realmente gosto de pênis, de corpo masculino, mas não acho tudo lindo. Os testículos são feios e estranhos. Há pênis que é feio e esquisito. ARGH! E eu já vi mulher nua que me deixou excitada, mesmo sem me envolver diretamente com elas, e ser mais para hetero. Comecei a perceber isso, e comecei a odiar essas separações. “Sou homossexual”, “sou hetero”, “sou bi”. PFFF! Eu sou uma MULHERSEXUAL. GOSTO DE SEXO!!! Se uma mulher me deixar com tesão, admitirei! Se uma vulva for bonita, direi! Se uns peitos forem tão atraentes que me deixarem com vontade de chupa-los, falarei! Mas já chega dessa discriminação de “ai meus deus, você é lésbica¿”. QUE SACO!!! Eu me sinto excitada mais com homens, não minto, mas como disse antes... Tem mulher que tem um poder de me excitar mais do que muito homem. E homens também deveriam admitir isso, seria tão mais fácil. SEXO É SEXO, não significa que a pessoa esteja limitada só a homem ou a mulher... Nós nos limitamos ao fazer isso. E se criamos “nojos” ao definirmos uma sexualidade, limitamos as possibilidades. O corpo humano é algo lindo, apesar de terem alguns que eu não queria nem se fosse de ouro. Há tantas possibilidades de prazer, e são tantas “cores” de “almas” diferentes, sem levar em conta a sexualidade da pessoa. Acho que deveríamos nos livrar dessas amarras que a sociedade e nós mesmos impomos a nós mesmos. E aprender a olhar e sentir de tudo...

domingo, 21 de julho de 2013

Me afogando em mim

Sugestão de música: Paciência - Lenine

E de repente me afogo em emoções, em sentimentos aleatórios. Isso que me sufoca, e me deixa incerta, querendo gritar e ao mesmo tempo me esconder e me calar. A vida nos carrega em uma correnteza maluca, sem fim, e às vezes não estamos prontos naquele determinado momento, mas e quem se importa¿ A vida continua acontecendo, e, Às vezes, nos arrastando. O quanto você daria para poder parar um pouco¿ E se parasse um pouco, você teria coragem de voltar para aquela correnteza¿ Coisas a se pensar. Seu corpo iria parar e talvez você nunca mais pegasse o ritmo. Talvez fosse melhor parar de vez, esperando que a correnteza parasse junto com você. Recentemente me deparei com situações assim, e me deixaram confusa... Pois o oposto aconteceu comigo. Por tanto tempo senti necessidade de parar, de ir com calma, pois a vida estava me engolfando impiedosamente... E por tanto tempo saí do ritmo, que para acompanhar o ritmo da minha vida, tive que acelerar mais do que eu estava preparar, ou acostumada. E agora, José¿ Tem momentos que parece que a vida corre em uma velocidade sufocante, vivi os últimos anos como se tivessem sido séculos. Como se eu precisasse compensar alguma coisa que não vivi... E aí está, a vida me arrastando, e às vezes, pela velocidade com que ela acontece, eu fico confusa com tantas emoções. Esse texto em si está confuso, pois está sendo complicado traduzir em palavras o que se passa na minha cabeça. Como traduzir tamanha confusão¿ Um labirinto com labirintos dentro talvez pudesse dar uma luz de como eu me sinto, mas não seria o suficiente. É estranho eu me deparar com minhas próprias ideias e vê-las mostrando-se erradas, quando por tanto tempo as considerei certas, e sofria por elas... Como entender o sentimento das pessoas quando sempre achei impossível que eles fossem direcionados a mim¿ Aí, de repente... Pessoas me amam. Sempre fui de amar, amar muito, mas me adapte a ideia de que todos um dia iriam embora da minha vida, de que eu não poderia me apegar profundamente a ninguém, ou esperar nada de ninguém. Não que eu não me apegasse, mas entendia facilmente, e por isso doía menos, quando alguém ia embora, deixava de falar comigo, sumia... Odiava-me. Fácil demais... Mas e agora¿ Quando minhas convicções parecem estar sendo quebradas a partir da própria base¿ Como é ver mais de uma pessoa gostando de mim¿ Em parte, me assusta profundamente: “De onde veio tanto sentimento¿ Há algo errado, só pode...”; ou me deixa descrente “Ah, é só um momento...”... E tenho reações como “SAIAM DE PERTO, EU NÃO PRESTO!”. Por tanto tempo, em minha mente, eu coloquei essa ideia de que eu não prestava, e assim eu me suportava facilmente... Que quando gostam de mim, POR MIM, sinto que algo está ANORMAL, ILÓGICO... E onde eu me encontro¿ A vida me atropela, a correnteza aumenta sua velocidade, meus pulmões procuram por ar, meu corpo procura o caminho... Mas não dá tempo, não dá tempo! A vida nos arrasta... Rumo à cascata do dia seguinte.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Eu e o teatro.

Constantemente escuto perguntas de o porquê eu ter saído do curso de medicina veterinária para ir cursar teatro. Na cabeça de todos, eu larguei um futuro promissor como veterinária, para arriscar no mundo de atuação. Dá muito medo, a escolha que eu fiz, de talvez não conseguir realizar o que eu quero, de ter que levar uma vida simples e sem muito dinheiro. Claro que isso dá medo! Mas não é uma resposta simples para essa pergunta a que eu tenho. Poderia simplesmente dizer “por que eu quis”, “por que eu gosto”, ou tantas outras respostas curtas que já dei para a mesma pergunta. Porém, não é bem assim. Desde sempre eu sempre fui uma curiosa. Minha profissão deveria ser essa: CURIOSA. Não uma curiosa do estilo metida, que entra na casa dos outros e sai vasculhando as gavetas, armários, quartos e etc. Uma curiosa de conhecimento. Eu costumo dizer “não sou estudiosa, sou curiosa”. Nesse ponto, eu tenho interesse em conhecer tudo, saber um pouco de tudo, mas me cansa querer saber só sobre a mesma coisa, assim como me cansa a rotina e a mesmice. Todas as profissões que conheço tem isso. Em veterinária era tanta coisa pra estudar, mas tinha a abrangência de “veterinária”, e eu precisava de mais do que isso. No começo eu pensei “irei me especializar em várias coisas”... Mas percebi que além de ser complicado, eu iria ser uma especialista muito medíocre, pois para conhecer de muitas coisas, talvez eu não conseguisse me especializar tão profundamente em nada, e isso me deixava para baixo. Sempre quis ser um pouco de tudo, e isso me deixava em um dilema. Se eu sair da veterinária, como eu iria ficar¿ Iria cursar o quê¿ Eu queria fazer tudo, mas não queria fazer tudo. Eu queria aprender sobre tudo! Ao mesmo tempo, a arte me fazia falta constantemente, pois só fazer desenhos eventuais, que tinham que ser esquecidos pela quantidade de matéria que eu tinha que estudar, não era o suficiente. Faltava algo, faltava liberdade, abrangência de pensamento, oportunidade de criar e pensar. Eu me sentia aleijada, meus pensamentos não fluíam devidamente ainda, eu lia, tinha o conhecimento, mas não os comunicava de forma plena, era defeituoso e eu me sentia péssima, odiava me sentir insuficiente. Então pensei no teatro, era uma forma de arte e eu poderia fazer “de tudo um pouco”. Não iria me tornar especialista de nada, mas já viram como os atores tem que aprender uma coisa ou outra quando vão criar um personagem¿ Toda aquela pesquisa, e conhecimento em diversas áreas, tudo isso me fascinava! A oportunidade de hoje ser uma médica, amanhã ser uma ladra, e no outro dia ser somente uma amante. Várias vidas em uma só! Isso me enchia de vida, me enchia de esperança. É como magia! O ator morre várias vezes, ama várias vezes, faz rir e faz chorar. Claro que há a participação de todo o grupo, pessoal da sonoplastia, na iluminação, figurinista, roteiristas, diretores... Tudo compõem o espetáculo, mas perceber que você está ali, vivendo outra vida sem deixar de viver a sua, isso me encantava. No começo eu fui covarde, assim como em várias ocasiões da minha vida, afinal, eu queria fazer teatro desde os 12 anos, mas me acovardei até o final de 2011. E eu tive medo. Fui educada em uma cultura de que se faz o melhor que se pode, e o melhor, segundo um conceito que me foi ensinado, seriam cursos mais reconhecidos, mais científicos, mais concretos e menos abstratos, e teatro ia na direção oposta de tudo isso. Sem garantias financeiras, com conhecimentos “sentidos” em certos momentos, uma liberdade diferenciada. Era tudo o oposto do que eu esperei pra minha vida, mas tinham aquelas promessas, aquelas possibilidades... E tudo isso me chamava. Pensei “tentarei sem compromisso”, e isso me deu a coragem em primeira instancia. Então comecei, e fui indo, e parece que meu corpo de conectou com minha alma, e o medo ia saindo de mim. Ainda tenho medo, mas todo o resto me dá uma coragem tremenda. Minha mente funciona, minha alma flui e eu posso me olhar no espelho e dizer que aquela ali sou eu. Não quero riquezas, quero espetáculos e expressões. Teatro não é uma total liberdade, nem é uma completa fuga da rotina. Acredito que sejam formas diferentes de senti-las.