Constantemente escuto perguntas de o porquê eu ter saído do curso de medicina veterinária para ir cursar teatro. Na cabeça de todos, eu larguei um futuro promissor como veterinária, para arriscar no mundo de atuação. Dá muito medo, a escolha que eu fiz, de talvez não conseguir realizar o que eu quero, de ter que levar uma vida simples e sem muito dinheiro. Claro que isso dá medo! Mas não é uma resposta simples para essa pergunta a que eu tenho. Poderia simplesmente dizer “por que eu quis”, “por que eu gosto”, ou tantas outras respostas curtas que já dei para a mesma pergunta. Porém, não é bem assim. Desde sempre eu sempre fui uma curiosa. Minha profissão deveria ser essa: CURIOSA. Não uma curiosa do estilo metida, que entra na casa dos outros e sai vasculhando as gavetas, armários, quartos e etc. Uma curiosa de conhecimento. Eu costumo dizer “não sou estudiosa, sou curiosa”. Nesse ponto, eu tenho interesse em conhecer tudo, saber um pouco de tudo, mas me cansa querer saber só sobre a mesma coisa, assim como me cansa a rotina e a mesmice. Todas as profissões que conheço tem isso. Em veterinária era tanta coisa pra estudar, mas tinha a abrangência de “veterinária”, e eu precisava de mais do que isso. No começo eu pensei “irei me especializar em várias coisas”... Mas percebi que além de ser complicado, eu iria ser uma especialista muito medíocre, pois para conhecer de muitas coisas, talvez eu não conseguisse me especializar tão profundamente em nada, e isso me deixava para baixo. Sempre quis ser um pouco de tudo, e isso me deixava em um dilema. Se eu sair da veterinária, como eu iria ficar¿ Iria cursar o quê¿ Eu queria fazer tudo, mas não queria fazer tudo. Eu queria aprender sobre tudo! Ao mesmo tempo, a arte me fazia falta constantemente, pois só fazer desenhos eventuais, que tinham que ser esquecidos pela quantidade de matéria que eu tinha que estudar, não era o suficiente. Faltava algo, faltava liberdade, abrangência de pensamento, oportunidade de criar e pensar. Eu me sentia aleijada, meus pensamentos não fluíam devidamente ainda, eu lia, tinha o conhecimento, mas não os comunicava de forma plena, era defeituoso e eu me sentia péssima, odiava me sentir insuficiente. Então pensei no teatro, era uma forma de arte e eu poderia fazer “de tudo um pouco”. Não iria me tornar especialista de nada, mas já viram como os atores tem que aprender uma coisa ou outra quando vão criar um personagem¿ Toda aquela pesquisa, e conhecimento em diversas áreas, tudo isso me fascinava! A oportunidade de hoje ser uma médica, amanhã ser uma ladra, e no outro dia ser somente uma amante. Várias vidas em uma só! Isso me enchia de vida, me enchia de esperança. É como magia! O ator morre várias vezes, ama várias vezes, faz rir e faz chorar. Claro que há a participação de todo o grupo, pessoal da sonoplastia, na iluminação, figurinista, roteiristas, diretores... Tudo compõem o espetáculo, mas perceber que você está ali, vivendo outra vida sem deixar de viver a sua, isso me encantava. No começo eu fui covarde, assim como em várias ocasiões da minha vida, afinal, eu queria fazer teatro desde os 12 anos, mas me acovardei até o final de 2011. E eu tive medo. Fui educada em uma cultura de que se faz o melhor que se pode, e o melhor, segundo um conceito que me foi ensinado, seriam cursos mais reconhecidos, mais científicos, mais concretos e menos abstratos, e teatro ia na direção oposta de tudo isso. Sem garantias financeiras, com conhecimentos “sentidos” em certos momentos, uma liberdade diferenciada. Era tudo o oposto do que eu esperei pra minha vida, mas tinham aquelas promessas, aquelas possibilidades... E tudo isso me chamava. Pensei “tentarei sem compromisso”, e isso me deu a coragem em primeira instancia. Então comecei, e fui indo, e parece que meu corpo de conectou com minha alma, e o medo ia saindo de mim. Ainda tenho medo, mas todo o resto me dá uma coragem tremenda. Minha mente funciona, minha alma flui e eu posso me olhar no espelho e dizer que aquela ali sou eu. Não quero riquezas, quero espetáculos e expressões. Teatro não é uma total liberdade, nem é uma completa fuga da rotina. Acredito que sejam formas diferentes de senti-las.
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