
Quando eu era mais nova, sonhava em encontrar um alguém para compartilhas a vida. Era minha ideia de “completo”, uma família. Muitas coisas aconteceram, e essa ideia começou a parecer uma mera ilusão. A primeira coisa que foi enfiada na minha cabeça era que eu nunca iria agradar ninguém, pois fazia o meu melhor, e ainda assim sempre parecia fazer o errado. Sempre me senti culpada por algo que eu não saberia nem dizer o que era. Depois colocaram que demonstrar sentimentos era coisa de gente fraca, e fraqueza era algo necessariamente ruim. Então me ensinaram que se eu não me adequasse a beleza comum, eu não seria aceita.
É, eu fui uma tola, eu acreditei em todas as mentiras que me foram ensinadas.
Bem, e quem iria me amar assim? Eu não tinha uma personalidade agradável, eu não podia demonstrar meus sentimentos, e eu não representava uma beleza comum.
Na minha cabeça: ninguém. Durante anos: ninguém.
Minhas experiências amorosas foram igualmente frustrantes. Parecia que o que me ensinaram estava certo, e hoje eu sei que é errado.. Mas meu subconsciente ainda não aceita que o que ensinaram e errado.
Para mim ficou o seguinte: Eu me amo, eu me acho legal e uma boa pessoa. Mas só eu e meus pais achamos isso. Quem vai me amar? Ninguém. Por isso eu me basto, tenho que me bastar, porque não posso depender de ninguém para ser feliz.
Para alguém que sempre viu a família como uma coisa completa, é bem difícil se adaptar a essa ideia aí de cima. Mas eu o fiz, porque fui vendo que era verdadeira. Nunca ninguém me amaria. Para eu conseguir uma família, tentaria encontrar alguém muito bom, que gostasse de mim, mas que eu só gostasse, não amasse. Se um dia a pessoa fosse embora, eu não sofreria.
Ou seja, escondi meu coração. Metaforicamente, o coloquei numa caixa, dentro de um baú, que está protegido pelo Cérbero, e a chave do primeiro cadeado está na barriga de um Cachalote, que habita o Triangulo das bermudas.
Bem, semana passada, recebi uma revelação que, para mim, assustou. Uma pessoa, uma amigo, disse que estava apaixonado por mim. Vou chama-lo de Deley, para futuras referências.
Bem, Deley disse que estava apaixonado por mim, e que gostava de mim desde que eu tinha 11 anos. Poxa, eu tendo 20 anos, ele gosta de mim há 9 anos! Bem, na época eu nem tinha experimentado a paixão, e eu era uma BOLA! Sim, eu era gordinha, não tinha corpo nada feminino ainda, eu era uma criança gorda! Como ele pôde gostar de mim?! Isso me assustou muito! Ele gostou de mim por mim? Mas como pode ser¿ Isso nunca aconteceu, quase parece um pecado. Eu não sou amável.
Tava tudo tão fácil, eu comigo mesma. Eu amava eu, e eu me amava. Casal perfeito. O único efeito colateral era eu procurar emoções diferentes para compensar a falta de emoções que eu teria. Sonhei demais. E sonhei com amores também, mas era tudo só mera ilusão, pra mim.
E esse meu amigo, apesar de meu amigo, é totalmente diferente do que imaginei pra minha vida. Eu me via com alguém inteligente, um bom papo, de um tipo que não fosse nem muito bem feito, não fosse definido. Eu estaria com ele pela conversa boa, os bons momentos.
Bem, Deley não é bem assim. É bem diferente, na verdade. E eu gosto dele, um carinho imenso e antigo, mas... Eu tenho tanto medo, eu acho que vou estragar tudo e vou perder até a amizade dele. Nunca vou entender que ele goste de mim. Parece tão ilusão pra mim, tão impossível, tão sonho. Isso não parece real.
E toda hora ele tenta me convencer que eu sou incrível, linda, que me ama, só quer me ver feliz, estar comigo. Eu não acho que eu o mereça... Essa idéia de felicidade não é pra mim.

Minha felicidade é do tipo sozinha, fazendo coisas emocionantes, sozinhas, sem ninguém por quem sofrer, ninguém para sofrer por mim, e só meus cães esperando por mim, só meus cães para me preocupar, cães que nos aceitam como somos. O problema é que eu acho que nunca vou ser aceita ou entendida, a não ser por mim mesma.
Eu não mereço esse tipo de “completo”. Eu não mereço esse amor puro e doce que Deley tem para me oferecer. Eu só o farei sofrer. Não quero ninguém sofrendo por minha causa. Já chega disso. Uma vida só, com cães e grandes emoções ficcionais, me parece mais viável. Amor para os outros. Nem filhos eu quero mais, assim não preciso me preocupar nem em achar um pai, nem em criar e sustentar sozinha uma criança, que ainda assim iria sofrer num mundo que cada dia parece só piorar, seria uma herança muito triste, e eu não iria querer isso para um filho.
A contradição é que eu sempre sonhei em ter filhos, e o que me deixa mais feliz nesse mundo é ver uma mulher grávida. Parece uma nova promessa de felicidade a caminho.
Mas hoje acredito que seja mais uma promessa de sofrimento, depressão.
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