"Esses dias eu não estou em mim. Estou atuando no papel de ser eu. Sou o personagem e o espectador de mim, em mim. Mas não sou eu sendo eu. Mas sim eu, atuando como eu. É tudo uma grande atuação, tudo uma forma de ser eu sem ser eu. E essa sou eu, uma completa estranha em mim. E eu deixo esse meu ator 'eu' me conduzir em cena, pois eu hoje sou só a espectadora de mim."
Talking in the middle of the night
-É insônia?
Não, é tristeza mesmo. Tristeza e negação. É um bom nome para uma peça. Já tenho 3 nomes para peças, e a inspiração para elas, mas não consigo por nada no papel. Seriam "tristeza e negação", "o não senso do bom senso" e "femininas". Um dia faço algo a respeito.
-De onde vem tanta tristeza e negação?
Difícil explicar. Minha negação está em não entender direito, ou se entendo, esqueço-me propositadamente e sem querer. Nego-me a acreditar em coisas ruins.
Estou meio poetica, não?
Eu diria que estou em uma tristeza aérea. Eu não estou nervosa, ansiosa, estressada, com raiva... Estou calma, e não era pra estar assim. Mas parece que minha cabeça não aceita a ideia de algo ruim acontecendo, e se não há algo ruim, não há sentimentos ruins, certo? Mas a verdade me toma de assalto aos poucos, e a cada pedaço que ela me rouba da ilusão, um pouco mais triste eu fico.
-Mas o que aconteceu?
ARGH! Dizer o que acontece parece tornar real, sabe? Eu só não consigo acreditar, ok? Eu não consigo, é dor demais para ser real. Aí eu fico entre picos de humor, horas estou rindo de qualquer coisa, como uma criança, e horas eu choro feito um bebê. E se eu for dormir agora, eu vou me acabar de chorar. Não quero chorar. Não quero "acordar" para a realidade de que o pior pode ter acontecido. Deve ser besteira minha. Talvez amanhã tudo volte ao normal. Isso não seria algo passível de ser real, é doloroso demais.
-Estou um tanto angustiado por você. Mas ainda assim, se estivesse com você agora, iria fazer o máximo para fazer surgir um sorriso, por mais timido que fosse. Isso não é fugir, mas sim encarar, pois, por mais difícil que seja o momentos, entregar-se à dor é desistir de crescer e, gostemos ou não, a dor ainda é nossa maior mestra.
Não estou me entregando, e nem enfrentando ou aceitando, estou negando. Agradeço pelo carinho. E até digo, conseguir um sorriso não tá tão dificil, hoje. Ainda não fui absorvida completamente pela realidade dolorosa. É que estou no pico de tristeza, no momento. Daqui a pouco estarei rindo igual a uma criança. É um sorriso falso, maquiado pelo meu consciente que nega. Mas é um sorriso natural, ao mesmo tempo. É estranho, eu sofro sem sofrer. Eu sei que aconteceu, mas sem saber. Enquanto estão todos loucos, eu estou aérea. E não estou aqui. Estou aqui sem estar aqui, estou em mim, sem ser eu. Loucura..
-Você não "percebeu" o que aconteceu ainda. Ainda não consegue lidar com isso. Cada um à sua hora, só precisamos respeitar nosso tempo.
É o que estou tentando fazer, eu acho. Nem sei se estou tentando mesmo. É sério, eu não estou normal. Me sinto perdida, com leves momentos de consciência... Ainda bem que quase ninguém notou isso. Acho que aprendi a disfarçar as dores, às vezes. Um sorriso afasta qualquer tentativa de fuçar a dor. Afasta ela da realidade. Torna-a uma mentira real, ou algo que não seja palpável. Não quero tornar a dor palpável.
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